Dia das bruxas, halloween, ano novo celta e mais curiosidades sobre a data controversa

Foto: Freepik

Por Tânia Jeferson

Hoje é Dia das Bruxas. Mas você conhece a origem desta data? Historiadores apontam para um antigo festival pagão: o festival celta de Samhain (termo que significa “fim do verão”) que durava três dias e começava no dia 31 de outubro.

Mas vamos começar do início. O Ano-Novo dos celtas era comemorado em um dia que corresponde a 1º de novembro. Eles habitavam o que hoje chamamos de Irlanda, Reino Unido (e também França). O dia marcava o fim do verão e o começo do inverno.

As estações do ano determinavam os ciclos da agricultura e o sucesso das colheitas definia o tamanho da despensa das pessoas. Nada mais justo que fosse escolhida para o ano novo. Era o fim do período solar, vivo e encalorado e o início da longa, fria e morta treva. O inverno chegara.

Para os celtas, na véspera desse dia de mudança, a divisão do plano dos vivos e dos mortos se misturava. À noite de 31 de outubro, eles deram um nome, SAMHAIN.

De acordo com pesquisadores, o Samhain era uma homenagem ao “Rei dos mortos”.

Estudos recentes revelam que uma das principais características desse evento era a presença de fogueiras, em comemoração à abundância de comida após a temporada de colheita. De acordo com a história, nesta data, fantasmas dominavam a terra, destruíam plantações e causavam arruaças. Em contrapartida, a presença deles facilitava o trabalho dos druidas, os sacerdotes celtas, de fazer previsões.

No entanto, essa teoria é baseada em evidências limitadas, além do fato de os festivais ocorrerem em determinadas épocas do ano. A celebração, a linguagem e o significado do festival de outubro variavam de acordo com a região.

Por exemplo, os galeses celebravam o “Calan Gaeaf”. Embora houvesse semelhanças entre esse evento realizado no País de Gales e o Samhain, que era predominante na Irlanda e na Escócia, também havia várias diferenças.

Por volta do século 8, o papa Gregório 3º decidiu mudar a data do Dia de Todos os Santos do dia 13 de maio – a mesma data do festival romano dos mortos – para o dia 1º de novembro, a data do Samhain.

Não se sabe ao certo se Gregório 3º, ou seu sucessor, Gregório 4º, tornaram obrigatória a celebração do Dia de Todos os Santos como forma de “cristianizar” o Samhain.

Independentemente dos motivos, a nova data para esse dia acabou unindo as tradições cristãs e pagãs. Dessa forma, as tradições pagãs e cristãs se entrelaçaram, criando uma mistura de influências culturais.

E quando surgiu o Dia das Bruxas? 

Entre 1500 e 1800, o Halloween, conhecido como Dia das Bruxas, tomou forma. Na festa, as fogueiras eram populares, sendo utilizadas para queimar o joio, simbolizando o fim da colheita no Samhain, além de repelir bruxaria e a peste negra, ou representar o caminho das almas cristãs no purgatório.

O costume de prever o futuro também fazia parte do Halloween, podendo-se prever a data da morte de uma pessoa ou o nome de seu futuro cônjuge.

Muitos desses rituais de adivinhação estavam relacionados à agricultura, como puxar uma couve ou um repolho para obter pistas sobre a profissão e personalidade do futuro cônjuge.

Outras práticas incluíam pescar maçãs com as iniciais dos pretendentes, “ler” cascas de noz e pedir ao diabo para revelar o rosto da pessoa amada em um espelho.

A comida também desempenhava um papel importante no Halloween e em diversos festivais. Um costume característico envolvia crianças indo de casa em casa cantando rimas ou orações pelas almas dos mortos, recebendo bolos de boa sorte em troca, representando o espírito de alguém liberado do purgatório.

Durante o festival, as igrejas costumavam tocar seus sinos, às vezes durante toda a noite. Apesar das tentativas do rei Henrique 3º e da rainha Elizabeth 1ª de proibir essa prática devido ao incômodo, os sinos continuaram a ser tocados, mesmo com a aplicação regular de multas.

Halloween nos Estados Unidos popular e ganhou o mundo

A Festa de Halloween chegou à América através da migração em massa durante a “Grande Fome” na Irlanda em 1845. Cerca de 1 milhão de pessoas foram forçadas a deixar seu país, levando consigo suas tradições e histórias.

Não é surpresa que as primeiras referências ao Halloween tenham surgido na América pouco tempo depois. Em 1870, uma revista americana mencionou o feriado como sendo “inglês”.

Inicialmente, as tradições do Dia das Bruxas nos Estados Unidos eram uma mistura das brincadeiras tradicionais das áreas rurais do Reino Unido com os rituais de colheita americanos. Por exemplo, as maçãs usadas para adivinhação no Reino Unido foram substituídas pela cidra, que era servida junto com rosquinhas. O milho americano também se tornou um símbolo importante do Halloween, sendo utilizado em decorações e espantalhos.

Foi nos Estados Unidos que a abóbora se tornou o símbolo principal do Halloween. No Reino Unido, o nabo era mais comumente usado para esculpir. A tradição das luminárias de abóbora surgiu a partir de uma lenda sobre um ferreiro chamado Jack. Essas luminárias se tornaram uma tradição marcante do Halloween americano.

A tradição moderna de “doces ou travessuras” também é uma criação americana. Embora brincadeiras semelhantes fossem praticadas na Idade Média com repolhos, o costume de pregar peças tornou-se popular nos Estados Unidos a partir dos 1920. No entanto, a tradição de usar fantasias e pregar sustos não tem relação com os doces.

Essa tradição ganhou força após uma adaptação do livro “Guerra dos Mundos” de H.G. Wells ser transmitida no rádio em 1938, causando pânico e confusão. Ao final da transmissão, o ator Orson Welles, em seu papel, revelou que tudo não passava de uma brincadeira de Halloween, comparando sua atuação ao se vestir de fantasma para assustar as pessoas.

Embora muitos acreditassem que a Terra estava sendo invadida por marcianos, essa pegadinha de Halloween marcou o início da tradição de usar fantasias e pregar sustos durante a celebração.

O Halloween hoje pouco lembra sua origem celta

E o que dizer do moderno Halloween hoje em dia? Atualmente, o Halloween se tornou o principal feriado não cristão nos Estados Unidos, superando o Dia dos Namorados e a Páscoa e ao longo dos anos se expandiu para outros países, como o Brasil, onde desde 2003 se comemora também o Dia do Saci, uma celebração que busca resgatar figuras do folclore brasileiro, contrastando com o Dia das Bruxas.

Hoje em dia, o festival pouco lembra suas origens, mas, apesar disso, proporciona aos adultos a oportunidade de brincar com seus medos e fantasias.

Ele permite que nós subvertamos normas sociais, como evitar contato com estranhos, e explore o lado sombrio do comportamento humano. Religião, natureza, morte e romance se entrelaçam nessa festividade. Talvez seja por isso que ele tenha se tornado tão popular.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui