O Manifesto-Show JUVENTUDE traz frescor e criatividade para as artes virtuais

Foto: Rafael Saes

Espetáculo produzido em Maringá com atuação e encenação vigorosas se destaca pela originalidade ao retratar os dramas do amadurecimento de um jovem

JUVENTUDE, o manifesto-show que fez sua temporada de estreia virtual no último final de semana se revelou um dos espetáculos mais interessantes nesse momento em que o teatro e cinema tiveram que se juntar devido às normas de isolamento social impostas pela pandemia da COVID-19. Ver Juventude presencialmente será certamente outra experiência, mas o espetáculo da sol-te companhia mostrou que é possível fazer o teatro acontecer em uma sala virtual mesmo com 02 horas de duração. Com a rapidez da modernidade e uma estreia em meio à retomada de apresentações presenciais com o aceleramento da vacinação e a flexibilização das normas de isolamento, Juventude conseguiu transformar o espetáculo longo em um dos destaques do chamado “cineteatro”, linguagem híbrida entre a apresentação de uma peça teatral com a linguagem cinematográfica na filmagem, tudo isso somado à distribuição virtual, um grande desafio para os artistas que sempre estiveram dentro da qualidade presencial.

Foto: Rafael Saes

O espetáculo se aproxima do gênero coming of age, ou seja, obras que retratam o amadurecimento. Neste caso, acompanhamos o crescimento do personagem Roberto Carlos desde o ensino médio até sua graduação universitária. O espectador é cúmplice de seus pensamentos, reflexões e dúvidas, relacionando-se diretamente com as cenas em que o personagem interage com a tecnologia, com as dimensões do político, com seus romances, e com as incertezas sobre o ser e sobre o futuro. Nathan Milléo Gualda, ator natural de Maringá, ganhador do Troféu Gralha Azul e que recentemente esteve a frente de produções do encenador prestigiado Gabriel Villela, faz de seu primeiro monólogo um acontecimento. Vê-lo em cena durante duas horas transformando-se nas dimensões e texturas do personagem Roberto Carlos é um dos pontos altos da produção. Através de Nathan, o público sente-se próximo do personagem e mergulha nas variações dramáticas e cômicas da composição.

Foto: Rafael Saes

Outra surpresa é o trabalho coeso na encenação de Mariana Mello, que consegue conduzir a narrativa do espetáculo de forma fluída entre as três partes que estruturam a montagem, calcadas em momentos mais representativos, performáticos e crus. Mariana Mello faz de Juventude um trabalho honesto e rico em suas cenas que tem um caráter independente, mas que ao mesmo tempo, combinam-se em sua unidade. Mariana e Nathan são os dramaturgos do espetáculo, por isso, vale ressaltar que a peça tem uma característica muito autoral em sua composição. Destaco a composição textual da cena em que Roberto Carlos encontra-se com uma conhecida do Tinder durante a Greve pelo Clima, é um dos grandes acontecimentos da peça.

 

Ressalto também a iluminação de Lucas Amado com o poder de criar ambientes singelos e imensos, ao mesmo tempo que a sonoplastia de Gilson Fukushima revela-se representativa, mas com o tempo, surpreende ao desconfigurar o percurso até então construído pela narrativa. A cenografia de cartazes de Guenia Lemos é simbólica e se conecta diretamente com a comunicação da peça.

Juventude vale ser vista, fique ligado nas próximas apresentações e eventos da companhia através da página @sol.te.companhia

 

 

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui