Por Helen Mavichian*
A maternidade, com certeza, é uma alegria indescritível para as mulheres, mas sabemos que também é um desafio, principalmente quando vivem a jornada dupla de mãe e profissional. As pessoas as vêem pra lá e pra cá e se perguntam como conseguem dar conta de tudo e ainda manter a vida em equilíbrio. Com mãe de dois pequenos e psicoterapeuta, costumo dar uma resposta bem simples para essa questão: nem sempre eu dou conta de tantas tarefas e está tudo bem!
A grande verdade é que nós mães nos perdemos em meio a uma pressão social associada à crença de que a maternidade nos abastece de super poderes para que sejamos capazes de fazer mil coisas ao mesmo tempo. Isso, além de obviamente ser um mito, não é saudável, só nos enche de culpa e faz com que a nossa saúde mental fique em segundo plano. Ficamos frustradas, exaustas e nos sentimos desvalorizadas em meio a tantas tarefas e responsabilidades. E, ainda, podemos desestimular aquelas mulheres que sonham e esperam ansiosamente por viver a maternidade.
A saúde mental das mães precisa ganhar holofotes e ser um ponto de atenção, não apenas pelo bem delas mesmas, mas também pelas crianças que são afetadas diretamente pelo estado psíquico e emocional das pessoas com quem convivem, as fazem sentir seguras, amadas e acolhidas.
Precisamos estar atentas ao nosso bem-estar para conseguir oferecer o melhor apoio e amparo possível para os nossos filhos. Eles dependem de nós e, se não estamos bem, como poderemos cuidar deles de forma completa e amorosa? O prejuízo na saúde mental materna pode dificultar e atrapalhar, sobretudo, o vínculo com a criança e o desenvolvimento dela.
A vida da criança é plenamente impactada pela saúde mental e física da mãe. Desde o humor dela até como ela lida com as suas questões, frustrações, tristezas, dores, como ela se posiciona, impõe limites lida com todos os aspectos de sua própria vida. As crianças aprendem muito por imitação, pelo o que veem dentro de casa e nos ambientes em que convivem. Tudo isso deve nos fazer pensar em qual exemplo queremos de ser para os nossos filhos e como estamos cuidando da saúde mental deles. A família como um todo pode ser afetada se uma mãe não estiver bem.
No meu consultório, em que atendo crianças e adolescentes, fica nítido como as crianças absorvem demais os sentimentos, pensamentos e comportamentos de seus pais e, principalmente, de suas mães. É interessante como elas observam, sentem e compartilham das mesmas emoções que a mãe expressa.
Para cuidar dos nossos filhos, precisamos cuidar de nós também e, um bom ponto de partida para isso é nos organizarmos melhor. Uma dica bacana é listar as prioridades para cada dia ou semana e definir o que é de fato mais importante em cada momento. Assim, conseguimos colocar energia naquilo que é essencial e aprendemos a nos cobrar menos e diminuímos a percepção de que deixamos de fazer algo que parecia ser urgente, mas talvez nem era. Há diversas maneiras de baixar a ansiedade, reduzir essa sensação de sempre estar na correria e sonhando com um dia de 30h para cumprir com tantas atividades.
Lembre-se de que a sua atenção, disponibilidade e tempo de qualidade é o que de melhor e mais primordial que você pode e deve oferecer ao seu filho. Você não precisa ter todo tempo do mundo, mas quando estiver com ele, esteja por inteiro, dê importância, tenha atenção plena, demonstre afeto e valide os sentimentos e as ações dele. Com certeza, não há nada de melhor do que isso para o desenvolvimento de um vínculo consolidado entre mãe e filho.
* Helen Mavichian é psicoterapeuta especializada em crianças e adolescentes e Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. É graduada em Psicologia, com especialização em Psicopedagogia. Pesquisadora do Laboratório de Neurociência Cognitiva e Social, da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Possui experiência na área de Psicologia, com ênfase em neuropsicologia e avaliação de leitura e escrita. Mais informações em https://helenpsicologa.com.br/