Filmes de super-heróis dão seus primeiros grandes passos rumo à representatividade

Muitas vezes consumimos mídias como livros, filmes e músicas como formas de nos desassociar dos problemas do cotidiano, incluindo aqueles de âmbito social, que, dependendo da sua posição de classe, é quase impossível de ignorar. Entretanto, nem mesmo estes universos ficam imunes a essas questões, uma vez que eles geralmente refletem a visão de mundo de seus autores.

Assim ocorreu no mundo das história em quadrinhos. Um dos melhores exemplos relacionados a isso é o universo dos super-heróis, tanto da Marvel quanto da DC, durante seus primeiros passos no século passado. Ali, as edições primordiais das histórias em quadrinhos eram recheadas de expressões que refletiam os arquétipos duais do homem como um herói protetor e da mulher como a donzela em perigo.

Tal aspecto devia-se em grande parte apenas ao recorte da época. Com redações muitas vezes compostas apenas por homens  estando as pessoas no topo da pirâmide também no mesmo recorte –, era quase impossível encontrar vozes femininas para contrapor as ideias postas no roteiro destas tramas.

Somente mais adiante, com a chegada de pioneiras como Dorothy Woolfolk – a primeira editora da DC Comics, assumindo o cargo na década de 1940 –, foi que representações femininas mais fidedignas à realidade começaram a aparecer nos quadrinhos. Mas, em grande parte, os problemas de outrora permaneceram.

Até hoje temos como grandes ícones do universo de super-heróis figuras como o Superman. Sua imagem é intensa especialmente na indústria do entretenimento, com produtos como camisas oficiais da DC, revistas especializadas como a Mundo dos Super-Heróis, livros com lições corporativas e até mesmo jogos de roleta estampando sua imagem ou contendo os ensinamentos que um personagem como esse pode oferecer. Mas pouco se vê espaço semelhante dedicado às super-heroínas.

Por sorte, as coisas têm mudado de maneira intensa em tempos mais recentes. Muito disso vem ocorrendo graças ao cinema, que tem mostrado aos estúdios que há uma grande demanda por figuras não pertencentes ao espectro mais “comum”, ou seja, o do super-herói mais tradicionais.

Ainda que tenham sido os filmes de figuras como Homem-Aranha e Batman os responsáveis por abrir esse nicho para o grande público, tais fórmulas podem se mostrar um tanto esgotadas depois de tantos filmes com a típica figura masculina. A temática da jornada do herói pode também ser percorrida por personagens que não estejam inseridas naquilo que é considerado o padrão social, pois ela é uma jornada humana, e não destinada a apenas alguns escolhidos. Dessa forma, filmes que fujam desse lugar-comum em termos de personagens acabam se tornando uma novidade e uma oportunidade para os estúdios.

Grandes exemplos recentes do lado da Marvel são Pantera Negra e Capitã Marvel. Frente a temores de executivos que acreditavam que os filmes poderiam não atrair tanta bilheteria quanto as obras trazendo heróis mais estabelecidos, como Thor e Homem de Ferro, o público provou que eles não estavam certos. Ambos os filmes ultrapassaram a marca de 1 bilhão de dólares arrecadados nos cinemas, em contraste com orçamentos variando entre 150 e 200 milhões, e, assim, mostraram que realmente existe um grande espaço para mais representatividade nesses setores.

A DC foi testemunha de algo bem semelhante com Mulher-Maravilha e Aquaman. Enquanto Mulher-Maravilha pode não ter atingido a marca de 1 bilhão, Aquaman o fez sem grandes dificuldades. Com isso, a DC obteve fôlego para continuar “experimentando”, lançando os filmes Shazam! e Joker, que continuam a fugir dos padrões de enredos típicos de heróis.

É claro, no entanto, que os esforços não param por aqui. A “batalha” por mais representatividade não fica limitada a essas mídias e é de baixo para cima que ela deve ser enfrentada.

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